O meu Mundo
No meu Mundo o chocolate seria saudável;
No meu Mundo ninguém estaria triste;
No meu Mundo haveria rebuçados em rios de chocolate;
No meu Mundo todos seriam felizes.»
Foi numa folhinha amachucada que encontrei este trabalho de casa. Guardei-o entre os meus documentos porque naquelas cinco linhas, escritas a lápis grosso, vi um horizonte de coisas por dizer, vi UM POEMA ESCRITO e milhares de outros por escrever – poemas de chocolate, rios de chocolate num leito de risos inocentes, aluviões de açúcar enrolados em papéis de cores. Vida por verbalizar, beijos e abraços por dar naquele rostozinho amado. Vida.
O que pensa uma criança? Para onde caminha? No metafórico rio de chocolate por onde descem rebuçados às cores baloiçam-se quimeras, saltitam esperanças. Dúvidas sobre se os monstros e as bruxas existem ou não quando as luzes se apagam.
Nos quartos ao lado dormem as manas, no outro, os pais, no andar de baixo? Quem dorme agora no andar de baixo? O gato! O gato a quem chamaram «Gato» e durante tempos ali esteve até resolver assumir a sua condição e vadiar telhados.
Não dorme ninguém no andar de baixo. A casa de pau dorme no jardim. As bonecas lá dentro têm as suas caminhas e dormem.
Ele sonha. Sonha que talvez tenha um grande talento. A avó disse-lhe «todos temos um talento, descobre o teu». A mãe comprou-lhe folhas brancas, lápis de carvão, minas, tintas, aguarelas, guaches… agora o violino, também o piano sob o olhar meigo da Corinne.
Karaté não, prefere murros ao desbarato, canto não, prefere os gritos desgarrados na montanha quando tenta imitar o pai nas piruetas do ski e os urros em cima do skate a caminho de casa da Naia.
Tão linda a Naia. Irá querer casar com ele quando forem grandes?
jl