Escrevo cansada e a rima solta, pois não consigo libertar a fatigada mente da volta que me dão as vozes… as vozes da gente.
“Às três da manhã faz tanto calor!”, exclama o turista, muito alto, debaixo da minha janela. Que horror, para além do inferno quente, o mal maior que esta cronista avista (e não é só ela!), é acordar com um salto, num afã, porque às três da manhã a temperatura foi por um turista revista e malquista debaixo da minha janela.
A seguir (por favor, preciso de dormir!), um grupo grande e festivaleiro, com sotaque de cá, vem desafinando as músicas que o vento não se permitiu a trazer de lá. Atrás, em bom som corriqueiro, um casal discute na rua assuntos de dinheiro. Olho para o despertador, estou tão cansada, acordo às seis… (e esta gente anda aos berros na rua como se fossem reis!).
Ligo o pc, toda desnorteada, é a quarta noite em que não durmo nada. Debaixo da minha janela parece que há, sem eu saber, todas as noites, reunião marcada, festa regada, discussão acalorada (e eu tão cansada!)
Duas famílias que partem cedo e um camião com mercadorias soltas. Fazem estrompidos que até me trocam as voltas! Quatro motos, (parece que foram disparadas de um canhão!) e eu a rimar, sem conseguir um momento de paz no colchão. Por fim, o despertador toca e eu no pc. Que perguntem no trabalho: que cara é essa? Porquê?
Se respondo, pareço mal-agradecida, pois é do turismo e da sua dormida que faço a minha vida. Ou então, pode-se pensar que não gosto de trabalhar! Sem capacidade de pensar ou de decidir, vindo de bem dentro de mim, meia adormecida, solta-se um bocejo e uma crónica, não de uma noite (açoite, poças, entrei a serviço às oito!)… mas de todo um verão sem uma noite bem dormida.
O mês de Agosto? Não desgosto, só queria acabar com este evento em sequela, dos grunhos que se reúnem debaixo da minha janela quando podem e decidem sair… porque eu não sou de ferro e para sorrir no trabalho, preciso de dormir.
Selma Nunes