“Laissez-faire-I-don’t-care está fora de moda”

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A minha aldeia no meio da Ria Formosa tem estado de parabéns. É a união da população que a distingue. As pessoas, sem preguiça. Unidos. Já sabemos isso, mas hoje, nesta crónica, vou sair da Ilha.

Sou uma apolítica consciente. Tenho as minhas simpatias, claro, mas acredito que no final do dia, são as acções e as pessoas que contam.

Ao fim da tarde, na minha terra raro é quando não sopra vento. Com esse vento voam palavras que são ditas às pressas a troco de votos. Porque nos dias deste nosso tempo, tempo, este, que corre e nos faz correr depressa, perdendo-o como se não o tivéssemos, as ideologias e crenças foram vazando pelos ralos. Ralos esses que até há pouco tempo não existiam, na minha terra.

Isto, para dizer que deve ser consciente a atitude na hora de fazer valer os votos que colocamos nas urnas. Essa é a acção que lubrifica a política que nos governa. As políticas. Não é a encolher os ombros perante as adversidades, deixando que a partidocracia instalada seja apenas isso: carreirismos e palavras ao vento que servem só a si próprios.

A democracia é ela própria quando os cidadãos participam ativa e conscientemente. E quando passamos ao descrédito pelos que nos representam, deve-se agir e não encolher os ombros.

Para contrariar a onda de “laissez-faire, I don’t care” instaurada, tenho visto, um pouco por todo o lado, a aparição de movimentos independentes. A meu ver isso é bom. Renovação! Grupos de cidadãos. Resolveram agir e participar ativamente na política que lhes regula as vidas, por não se sentirem representados pelos partidos tradicionais. Não estou a falar de dissidências, independentes meio-termo ou populismos bacocos. Movimentos de pessoas com ideias em comum, a sério. Não estou a falar de Olhão. Não me meto nisso, pois não percebo.

No outro dia, estive à conversa em Albufeira com o Movimento Viva Albufeira. Podia ter encontrado outro qualquer, mas assim calhou. Fiz duas perguntas para sentir o ambiente. Vi onde estava e sorri. Conheço aquele entusiasmo de perto.

Recolhiam assinaturas. Parece que há confusão entre o assinar e o fazer parte. Permitir que alguém concorra é democrático. Não assinar, como vi acontecer, parece-me igual a trancar a equipa adversária no balneário para poder ganhar por falta de comparência. Adiante: a democracia tem de vir para a rua esfolar os joelhos e ser real. O partido do costume só será bom, se servir. Desde cedo aprendi que encolher os ombros não traz luz, ou água a ninguém. Boicotar também é agir. Abster é cobardia. Não fazer nada e aceitar tudo é do tempo do outro senhor, uma ofensa ao Abril que pressupunha a queda do caciquismo e não a troca de uns por outros.

Selma Nunes

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