Quando a opção são os óvulos doados | “Luto genético” um turbilhão de emoções 

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  • Na impossibilidade de serem mães com os seus próprios óvulos, muitas mulheres optam por tratamentos com doação de gâmetas. O processo de aceitação não é igual para todas e implica a elaboração do luto genético. É comum este processo caracterizar-se por sentimentos de zanga, frustração, tristeza, culpa, e muita ambivalência.
  • O tratamento com óvulos doados está indicado para mulheres com reserva ovárica baixa ou de má qualidade, ou quando existe alguma condição clínica subjacente que as impeça de serem mães com os seus óvulos. Nestes casos, a taxa de sucesso acumulada de 3 tentativas de doação de óvulos ronda os 90%.

A maternidade tardia é uma realidade dos nossos tempos e tem levado cada vez mais mulheres a recorrer à medicina de reprodução para alcançar a tão desejada gravidez. Após os 35 anos, a probabilidade de uma mulher engravidar naturalmente cai para metade. E quando a qualidade dos seus óvulos é insuficiente para conseguir uma gravidez, a opção mais viável é a doação de óvulos.

“Há uma tendência crescente de acordo com o atual contexto social e económico para uma maternidade mais tardia. Uma vez que a fertilidade feminina começa a decair de forma mais acentuada após os 35 anos, muitas das nossas pacientes deparam-se com uma realidade com a qual não contavam: não vão conseguir engravidar com os seus próprios óvulos. Aceitar esta situação e considerar um tratamento com óvulos doados é um caminho que pode ser desafiante, que implica desconstruir uma série de crenças e processar o luto genético. Por isso, recomendamos a todas as pessoas, que se deparam com esta possibilidade, a realização de uma consulta de psicologia e eventual acompanhamento psicológico, quando necessário”, afirma a Dra. Filipa Santos, psicóloga do IVI Lisboa.   

Normalmente, uma mulher que se encontra nesta situação passa por diferentes fases no processo emocional, que podem ir desde a rejeição, à tristeza, à incerteza e progressivamente à aceitação. A perda traduz-se no chamado “luto genético”, que se caracteriza pela aceitação de que uma pessoa não vai transmitir a sua genética, logo a da sua família, aos seus filhos. São reações habituais, mas que podem ter um impacto significativo na forma como a pessoa se vê no momento presente e também como se projeta no futuro, mas que podem beneficiar de acompanhamento psicológico.

A Dra. Filipa Santos revela que, durante a consulta, as preocupações mais frequentes são como se sentirão como mães do bebé, se haverá diferenças na maternidade sem vínculo genético, quais as origens e as motivações dos dadores, quais os sentimentos que poderão surgir se houver diferenças nas características físicas, partilhar ou não esta decisão com as pessoas mais próximas e, futuramente, como abordar com o filho. “O aconselhamento psicológico é fundamental nesta fase, no sentido de promover uma tomada de decisão devidamente informada e consciente, e também para apoiar no impacto emocional de todo o processo”, acrescenta. Na sua opinião, é importante deixar fluir as emoções e partilhar com os parceiros (quando existem) e/ou com a família ou amigos mais próximos, sem quaisquer preconceitos. Fazê-lo pode ser libertador e facilitador de uma maior aceitação. A doação de óvulos é uma possibilidade, uma escolha”, explica.

As pacientes que têm indicação para doação de óvulos são geralmente mulheres que adiaram a maternidade, que têm insuficiência ovárica prematura ou que foram submetidas a cirurgia nos ovários. Além disso, este tratamento também pode ser indicado para mulheres com doenças hereditárias ou histórico de falhas repetidas na fertilização in vitro (FIV) com ovócitos próprios.

“Para muitas mulheres, não é a situação que idealizaram. Muitas culpam-se por terem adiado a maternidade. É fundamental dar tempo para aceitarem, reconsiderarem, expressarem emoções, para depois tomarem a decisão quando faça mais sentido para elas”, esclarece.

As dúvidas que geram mais preocupação

O meu filho será parecido comigo? Como é escolhida a dadora? A falta de informação sobre o processo é algo que gera ansiedade. Como não se fala abertamente sobre o tema, estas mulheres tendem a guardar para si todas estas angústias e incertezas. O que poucas sabem é que há um vínculo que nasce com a decisão e que cresce, desde a transferência até ao parto, como sublinha a Dra. Filipa Santos: “A ligação que terão com o bebé será única, potenciada graças à epigenética, ou seja, há uma relação entre mãe e filho durante o período gestacional, um vínculo pré-natal que deixará a sua marca após o parto e na relação futura”. Este vínculo acaba por facilitar a transição da mulher para o seu papel de mãe com as mudanças emocionais e físicas que esta primeira fase implica.

Mas afinal como tudo se processa?

Segundo a Dra. Tetyana Semenova, ginecologista e responsável pela unidade de ovodoação do IVI Lisboa, a dadora é escolhida de acordo com critérios fenotípicos (características físicas, tais como tom da pele, cor dos olhos, cor do cabelo, altura, peso), grupo sanguíneo e a compatibilidade genética entre o marido/dador e a dadora (é realizado o teste que estuda a presença de mutações genéticas consideradas mais frequentes numa determinada população).

Uma vez escolhida a dadora, é realizada a FIV e criados os embriões. Depois inicia-se o processo de preparação do endométrio da mulher para promover a posterior implantação do embrião, explica a Dra. Tetyana Semenova. A transferência embrionária pode ser realizada no ciclo natural ou no ciclo com recurso à medicação. A taxa de sucesso com a doação de óvulos ronda os 90%, após 3 tentativas.

Em resumo, a decisão de ser mãe através da ovodoação é muito pessoal e implica todo um processo emocional. Daí, que seja fundamental o aconselhamento de médicos especialistas e outros profissionais especializados em Reprodução Assistida e Infertilidade, como o Psicólogo Clínico e/ou de Saúde, para que a tão desejada gravidez ocorra nas melhores condições físicas e emocionais.

Mais informações: https://ivi.pt/www.rmanetwork.com

TR