Às vezes, meias músicas fazem-nos despertar para esse tempo que perdemos a correr entre uma multidão de gente, num vazio sem ritmo em que o corpo se compele porque sim. Porque se deixam para trás as razões da dança.
As músicas, mesmo quando ouvidas pela metade, são inteiras. Limitam-se a ser aquilo. E vive-se assim!
Eu não sou eu, enquanto não olho para mim com tempo. Não há tempo para ser aquilo que seria se com tempo. E assim, entre meios tempos, perde-se a essência de tudo o que se poderia ser, a seu tempo. E entre todos os que correm (porque todos correm, mesmo que apenas por correr), sou, somos, uma multidão de loucos desenraizados, inacabados e tão abandonados de nós por nós, que nem nos pensamos, nem nos reconstruímos. Corremos. Por não haver tempo? Mas, meus caros, o tempo é um campo estéril. Controlados pelo pouco ou muito tempo, não nos cumprimos, porque nos tornamos naquilo que o tempo é. Uma fronteira imaginária.
Estéril. Há que abrandar a dança e um pouco desse controlo pelo tempo, pois até o tempo deixa de ter… tempo. E quando o tempo acaba… já não o é. E nós, assim, nunca nos chegamos a chegar, quanto mais a ser… tiro o relógio. Escondo-o num canto. Só hoje, para que a sem tempo tenha tempo. E quando me ouvir, finalmente, há que ter coragem, pois quem me digo posso já não ser eu e isso é um contratempo.