Parece-me inusitado que uma associação de moradores em regime de voluntariado tenha de pedir condições básicas para as pessoas quando isso é obviamente um direito e uma tarefa do poder político e público. O poder, ou o querer ter poder, não pode servir apenas para andar em campanha pela aldeia a apertar mãos e a distribuir beijinhos. Tem de ser representativo. Neste momento toda a gente simpatiza, sim, mas não representa a Aldeia da Culatra que se encontra isolada e se não fosse a união e a associação, não sei.
Por outro lado, toda a gente diz: “ai e tal, a Culatra é diferente.” Isso é tão óbvio! Mas com tanta concordância, onde está o estatuto jurídico-administrativo?
A Aldeia da Culatra deve ser considerada o que todos sabem ser – uma aldeia piscatória com identidade e história. Deve e quer continuar a sê-lo. Continuamos todos de acordo. Assim como está, não é carne nem é peixe e muito dificilmente será marisco – é simplesmente a Culatra a conseguir tudo sozinha. E daqui a uns anos, se continuam isolados, com os postos de trabalho hipotecados por maus acordos e pela poluição na Ria Formosa, esta comunidade única fica sujeita à especulação que tanto querem evitar e que seria simples de regular, com a ajuda da AMIC (deixem-se de galhardetes que isso só é engraçado a primeira vez) deixem as pessoas herdar e criem regras apropriadas à tão anunciada diferença gritada em todos os quadrantes.
Como está é esquisito. Vejamos: se por um lado pertence ao Domínio Público Marítimo (o que é uma coisa que não cabe na cabeça de ninguém logo devia ser mudado), pertence à cada vez mais distante Junta de Freguesia da Sé (Faro) e ao Município de Faro, pagam impostos municipais a Faro, votam para Faro, mas as carreiras regulares são de barco por Olhão, para assuntos de Igreja é com Olhão, os miúdos estudam, a partir do 6º ano, em Olhão (agora já vão para Faro, porque houve uma tentativa de aproximação, mas não chega!), pertencem à capitania do Porto de Olhão, quem resolve e representa é a Associação de Moradores (AMIC) e acho que fiquei sem fôlego.
Carne, peixe, marisco e pancadinhas nas costas, o que eles são é Culatrenses e têm o direito a ser representados pelo poder político, que até agora, independentemente da cor, é um pretendente que só sabe prometer danças, mas mexer, quem mexe é o mexilhão. Chega de beijinhos e dizer que os Culatrenses são diferentes! Eles já sentem isso há muitos anos. Resolvam esta caldeirada de uma vez por todas!
Selma Nunes