De fato e gravata, em política, promete-se. De fato e gravata cumprimenta-se meio mundo, apesar de não se conhecer ninguém. Porque a função de quem veste um fato é apertar mãozinhas, distribuir beijinhos e prometer coisinhas que passados cinco minutos já foram esquecidas, pois a maré levou as memórias todas.
De fato e gravata, opina-se sobre tudo, e quem usa um desses pensa que lhe são conferidos superpoderes, superinteligência, superpotência e que toda a gente lhes deve subserviência. Pensa estar acima. Nada mais errado. Leiam os livros outra vez. É ao contrário. Lamento informar, mas os vossos fatos foram feitos para servir. Não para vos servir, mas para que com eles, vós, senhores dos fatos, sirvam para alguma coisa. E não é com certeza para serem ditadores de meia tigela, cheios de manias e teorias de tanga, que desses, já o mundo viu muitos e ficou provado que o culto do ego nunca deixa saudades.
Depois, há quem vista o fato de oleado. Com fato de oleado, não se promete nada, porque as marés são instáveis. Não se sabe o que se traz depois de uma noite de faina. Nem a que preço pode ir o que se traz. Também se ignora se se volta. Não se anda aos apertos de mão, pois estas estão ocupadas a “safar” redes.
Ao contrário dos fatos e gravata, os fatos de oleado tentam que as suas memórias não sejam levadas pela maré. Muitas vezes são eles levados pela maré. Principalmente de Inverno. Aqui no Algarve, por causa do assoreamento das barras, que são constantemente esquecidas pelos fatos e gravata. Comem sardinha e iguarias por este Algarve fora, quando há festivais e festas, principalmente, se precisarem de aparecer, ou mandar uns bitaites, ou simplesmente porque vêm de férias e querem mostrar que querem o que é nacional e tal. Não obstante, não estão no mesmo barco. Não é de agora. O país com o maior domínio marítimo não cuida dos seus. Está mais preocupado em combinar as cores da gravata.
No que toca ao Algarve é mais importante demolir as paredes de uma casa que preservar a vida humana numa barra perigosa. Porque não há fundos. Dizem eles. Sabemos que não é verdade. Amanhã salvarão outro banco. Porque nos bancos usa-se fato e gravata também. Com os bancos de areia que vão matando os fatos de oleado, ninguém parece importar-se. Há 14 anos que se encolhem. Eu tenho vergonha dos fatos que usam aqueles que nos usam. Muita vergonha.
Selma Nunes