O cavalheiresco Simão Solis, para não se desbocar sobre os encontros furtivos que tinha com a sua Violante, freira à força, deixou-se queimar na fogueira como ladrão de Igrejas em vez de confessar o amoroso pecado, protegendo a honra da namorada. Lançou maldição ao sítio onde foi queimado, sendo que as obras de Santa Engrácia, que tinham começado nunca mais acabaram. Por isso, as obras demoradas são comummente chamadas “obras de Santa Engrácia”.
A entrada de Faro continua um caos matinal, uma tortura, uma coisa que ninguém merece, nem pediu. É desgastante, contraproducente, perigoso e aborrecido. É uma coleção de adjetivos com teor pejorativo. Quando se está no meio daquilo não há adjetivos que classifiquem a seca e a revolta. Só interjeições e palavrões fazem o desenho completo. Acho que só os digo quando entro em Faro. Sempre foi mau. Com as obras está pior e parece que nunca mais acaba!
Outra verdade é que as nossas ruas algarvias têm mais buracos e remendos que um queijo suíço e cada buraco de estacionamento tem um parquímetro associado. Pura constatação, pois sabemos que os tostões estão escassos. A meu ver, assim não fazem muitos amigos. Prefiro ir outros sítios, porque as minhas opções são: ou colocar a moeda no parquímetro ou ter a sorte de encontrar um lugar grátis, mas com uma espécie parquímetro humano cheio de acenos e vícios, o que para a minha carteira, vai dar no mesmo.
Já nem vou escrever (muito) sobre a passagem pedonal do túnel em Olhão, pela REFER. Virou-se no outro dia uma cadeira de rodas, tal é a inclinação da suposta “alternativa viável”. Por sorte – muita sorte (de acordo com quem viu e eu li) – não aconteceu uma desgraça maior. Até quando fingiremos que acreditamos que não há solução?
Entre Festas e Festivais do Caracol, do Marisco, da batata-doce, Música nas Igrejas, Med, Lota Cool, torneios de petanca, festas religiosas, bailaricos, matraquilhos, estádios e festas de bar de praia têm de existir acessos. Li que os acessos algarvios vão ser objeto de moção. Certo. Não quero ser mazinha, mas… quais acessos? Uma Estrada Nacional que é um ponto negro, mortal, cheio de trânsito, engarrafado e sem grandes alternativas senão a das portagens é um acesso ou um obstáculo?
A meu ver, é mais do que óbvio: ou por amores clandestinos, centralização, ou por culpa do Simão Solis e das obras de Santa Engrácia, não temos acessos que dignifiquem a região. Os nossos acessos matam-nos. A EN125 é um perigo! Além disso, arruína-nos a imagem de destino turístico de excelência e isso não é um segredo muito bem guardado. O Algarve é tratado como uma região que não serve a ninguém, sendo na realidade a região responsável por 39% das dormidas de um país cada vez mais dependente do turismo. É irónico, ou quê?
Releio a crónica e apercebo-me que não referi que a Igreja de Santa Engrácia é conhecida também como Panteão Nacional. Fica perto da Feira da Ladra, em Lisboa.
Selma Nunes