Não estamos assim tão longe desses tempos como nos julgamos, com as nossas tecnologias, vícios e manias. Ainda se salta nas fogueiras, numa provável adaptação, através dos santos populares. Desengane-se quem se acha moderninho e super original. As tradições regeneram-se, enfeitam-se e têm surtos a que chamamos moda ou de uma maneira chique: tendências. Terra é sempre terra e dela dependeremos sempre mais que da conexão ao wi-fi. É bom não esquecer e agradecer ao nosso salvador regional e mental – o Verão.
No Verão, os nossos corpos libertam-se ao calor dos dias. Descalçamos mais, vestimos menos e salgamo-nos nas praias até quase ganharmos escamas. Soltamos gargalhadas infantis quando chega uma daquelas ondas marotas que molha mais que o previsto. Ficamos ainda mais acriançados, se é que é possível. Esticamo-nos nas varandas. Sentimo-nos mais aptos, mais vivos, mais enérgicos, mais felizes e somos provavelmente mais tontos. Soltamo-nos do Inverno sequiosos de felicidade. Porque é Verão… e porque temos em cima das nossas cabeças este céu maravilhoso e sem nuvens, esta luminosidade que incentiva o espírito à festa e porque se os dias são grandes é porque é também suposto sermos maiores que o nosso tempo, por imitação.
Um segredo: no Verão, debaixo desta nossa luz algarvia, embaladas por uma brisa mediterrânica, as músicas tendem a sair para fora das casas pelas paredes, janelas e frestas. Na baixa de Faro, nos dias 19 e 20 de Junho celebra-se a chegada do Verão com música. Pretende-se que nasça dali um festival, um dia. Sem querer ser demasiado incisiva, espero que as obras acabem depressa, pois tem-se verificado difícil chegar até lá abaixo. Felizes “Dias do Solstício” e os parabéns ao Grupo Coral Ossónoba.
Selma Nunes