Não sei quanto tempo depois, dentro do sonho, as paredes desapareceram e lembrei-me de onde se devia estar a tirar areia: enganaram-se, não era aí! Era nas barras da Armona e da Fuseta, ou pelo menos numa. Dragar, sabem? Não ouviram. Tirar a areia para construir praias fluviais no Alentejo, é que já não tenho tanta certeza. Deram os baldinhos e as pás aos miúdos errados, ou pelo menos é o que parece! Era para estes Pólis, os Litoral, aqui da Ria Formosa! Enganaram-se! Mandem as pás e os baldes pelo correio!
Ouvi o zunido de uma abelha. Cheirou-me a romãs. Essa é a parte mais surreal do sonho. Segundos depois, as paredes amarelas deslavadas voltaram.
Acordei ao som de “rebetiko” grega. Faz lembrar fado. Não é, já sabemos, mas faz lembrar, é um som mediterrânico e tudo. Apercebi-me do jornal aberto e da televisão ligada. O meu sonho foi sonhar que estava a sonhar. E Polis era o modelo das antigas cidades gregas, curiosamente.
Contudo, atrás desta crónica estão pontas soltas de realidade. Este é provavelmente o não-sonho (quase imoral) mais real que tive. Mas lá que é desconcertante ver subtrair levianamente, dito assim, da UE um país constituído por cerca de 11 milhões de habitantes, só porque ainda ficam 18 países, isso é! Ou terei percebido mal e seria matemática para um campo de golfe?
Para os apreciadores de verdadeiras obras de arte em areia, está aí o Fiesa, em Pêra, com direito a animação musical. Há também o festival de cerveja artesanal no Jardim da Alameda em Faro! Não se deixem amarelar entre paredes.
Selma Nunes