Agir como um ser humano é notícia quando se perde alguma humanidade? E aqui estamos, eu e tu, com a lagrimazinha a querer saltar por coisa nenhuma, enfiados neste casulo internáutico. Isto faz de nós tristes e humanos, complexos e absolutamente inúteis, se não pensarmos nisto a sério. E um pouco ridículos, se pensarmos. Prefiro ser ridícula. E sou.
Já te imagino a sorrir e não sei se achas que estou louca, ou se simplesmente pensas que eu não tinha assunto para escrever, embora me apetecesse muito e talvez até julgues que escrevo estes disparates, porque me fartei de reclamar com as coisas sem sentido que se passam nesta região algarvia solarenga e de forte cheiro a salitre. Talvez até aches a tirada do parágrafo anterior inteligente, mas agora está-se a desvanecer o sorriso, porque nem teve assim tanta piada. Não, não estou insegura. Às vezes fico, mas depois passa. Como disse, somos iguais na nossa humanidade e tu, por vezes, também ages de modo ridículo. Só que não admites nem escreves sobre isso. A verdade é que estamos quase na Páscoa. Andamos de folar em folar, de ovo para amêndoa e com os mesmos problemas do ano passado.
As casas dos ilhéus continuam ameaçadas. Continuam a querer sugar os combustíveis do chão algarvio. Continuam a dar mais importância ao euro que à vida. Os fatos e gravatas deviam ser menos impermeáveis que os fatos de oleado, mas continuam a não ser. A entrada de Faro continua um pesadelo. A Estrada Nacional 125 ainda é um ponto negro, a A22 um pedaço de alcatrão caro e vazio. Os postos de informação turística fecham ao fim de semana e quase não há transportes públicos nesses dias também.
Por outro lado, estão a dinamizar-se a cultura e os eventos culturais. Os teatros e auditórios estão a trabalhar em rede. Os municípios estão a divulgar eventos e a tentar animar os centros, e monumentos com a ajuda das associações. A passeata que era exclusiva de centro comercial e montras, agora é feita ao ar livre. Só tu continuas aí a olhar para os gatinhos da rede social, e nem te revoltas, nem usufruis. Eu às vezes sou como tu, só que cada vez menos. Fui para a rua. Não me arrependo pois, apesar da qualidade de imagem, o som é surround.
Selma Nunes