Tratamos esse nosso Avatar com mais ou menos perícia e no fundo, acabamos todos (seguindo a corrente maior) a gostar das mesmas coisas, o que me faz alguma aflição, pois ficamos pouco diferentes de uma massa homogénea e cheia de bytes. Sei lá, a um passo de sermos máquinas sociais programadas. Ou anti – sociais desprograma dos.
Eu por “lá” ando, mas gosto de pensar que não me converteu completamente. Se calhar, é apenas algo em que gosto de acreditar.
Como não se discutem os gostos (pelo menos, os gostos que podem ser públicos, em parte porque é feio e em grande parte porque sabemos poder estar a ser vistos e só por isso, há mais cuidados), contam-se os gostos. Nós, como num concurso qualquer de pseudo – popularidade, “por lá andamos” nisto de provocar os nossos amigos com coisas para eles gostarem, comentarem, ou para dizer coisas e quiçá, de um modo humano e quase doentio, preencher a lacuna social (que é causada por isto – doença e falsa cura no mesmo sítio!). E estabelece-se essa comunicação artificial, sem usar quase a palavra. Mudos. Sentados. Deitados. Na retrete. No banho. No trabalho. Na rua… e perigosamente, nos carros. Não!
Ao mesmo tempo, uns mais conscientemente que outros sabemos estar a proporcionar às grandes corporações, instituições, etc… milhares de dados sobre as nossas vidas online, mais ou menos virtuais. E eles não discutem os nossos gostos. Contam-nos, analisam-nos e tratam de criar coisas e de ter ideias que nos agradem e a fazer a economia, ideologias, sabe-se lá mais o quê, girar. Por isso aqui observo, o que provavelmente muitos antes e melhor do que eu já observaram: os gostos já não se discutem (são globais), mas contam-se… e de que maneira.
Não é uma crítica, não veria mal nisso, desde que determinadas barreiras não fossem ultrapassadas. O pior é que são. Abusivamente. Há casos gritantes. Casos de polícia e de serviços secretos. Há pessoas expatriadas, escondidas por denunciar esse tipo de práticas.
Acredito que a maior parte das pessoas não se dá conta que “aquilo” de que falo, não é um brinquedo. Se alguma vez foi… já não é. É um instrumento comunicativo e promocional de proporções absurdamente assustadoras. Informação de todos, de tudo, em bruto e em simultâneo, agora então, em tempo real. As nossas vidas em promoção a preço de saldo em troca de nos escarrapacharmos num mural, ou a ideia que temos de nós reduzida a post-it. É perigoso. É avassalador… e ainda assim, uma pequena tentação.
Selma Nunes