Tal era o entusiasmo que acabou por enfiar os dedos no globo ocular de um polícia imóvel e em troca levou um estalo de mão aberta. Até aos meus doze anos achei esta história hilariante, depois disso tornei-me altamente compreensiva com esta senhora. Na minha primeira ida a Lisboa fiquei tão surpreendida com os prédios gigantes, a infinidade de carros e de estradas que eu mesma ponderei enfiar os dedos nos olhos de alguém para me assegurar de que não estava a sonhar.
Com os meus dezasseis anos, um arrumador de carros partiu o retrovisor do carro da minha mãe porque ela se recusou a retribuir-lhe o seu serviço magnífico e ainda lhe gritou ‘paga isso então, sua pu*a!’. E o meu encanto por Lisboa foi-se perdendo na mesma proporção que o meu amor ao Algarve crescia. Este é o melhor sítio do mundo dizia (e digo) eu em voz bem alta, acrescentando ainda que mais de 300 dias de sol por ano não é para qualquer um! Recentemente tive uma agradável surpresa em Lisboa. Nove da manhã, Benfica deparo-me com isto:
É tal e qual no Algarve! pensei. E fartei-me de rir. Há coisas que ainda são comuns a nós, labregos, e às gentes lá de cima, classy people. Aparentemente, a crise quando vem enfia os dedos nos olhos de toda a gente. E pensava eu que já tinha tido a risada do dia… mas ainda fui descobrir que a DGV por estas bandas tem sucursais para dar conta do recado, por ser… muita gente, explicou-me o dono da loja, um velho anafado e muito simpático. É grande a ironia, muita gente mas não clientes.
E fui acabar a risada no café ao lado. ‘Em pão saloio?‘ pergunta a senhora ao balcão. Saloio!’Em pão caseiro‘ respondo eu. Ah, Algarve, como eu gosto de ti! E os labregos somos nós?
Rainha de Espadas